O espaço público é um desafio global à política urbana: um desafio urbanístico, político e cultural, referido a toda a cidade.
Urbanístico: o espaço público não é o espaço residual entre o que está a ser construído e o espaço viário. Há que considerá-lo elemento ordenador do urbanismo, seja qual for a escala do projecto urbano. É o espaço público que pode organizar um território capaz de suportar diversos usos e funções e que tem a maior capacidade de criação de lugares. Deve ser um espaço de continuidade e da diferenciação, ordenador do bairro, articulador da cidade, estruturador da região urbana. Para os governos locais, o espaço público é o exame que têm de passar para serem considerados “construtores de cidades”.
Político: o espaço de expressão colectiva, da vida comunitária, do encontro e da inter-mudança quotidianos. Nada fica à margem deste desafio: blocos habitacionais, centros comerciais, escolas, equipamentos culturais ou sociais, eixos viários, para não dizer também ruas e galerias, praças e parques. Todas estas realizações arquitectónicas são susceptíveis de um tratamento urbanístico que gera espaços de transição, que contribui para criação de espaços de uso colectivo. Trata-se de uma questão de vontade política e de respeito pelos direitos do cidadão, o sentido que se quer dar ao quotidiano do cidadão.
Mas há outra dimensão política do espaço público: a dos momentos comunitários fortes, de afirmação ou de confrontação, a das grandes manifestações sociais ou dos cidadãos. A cidade exige grandes praças e avenidas, especialmente nas suas áreas centrais (e, também, noutra escala, nos seus bairros), nos quais possam ter lugar grandes concentrações urbanas. Estes actos de expressão política têm o seu lugar de preferência à frente dos edifícios ou dos monumentos que simbolizam o Poder.
Cultural: a monumentalidade do espaço público expressa e cumpre diversas funções: referência urbanística, manifestações da história e da vontade do poder, símbolo de identidade colectiva… é um dos melhores indicadores dos valores urbanos predominantes. (…) A dimensão cultural do espaço público não se limita à monumentalidade e aos espaços não construídos, mas também ao conjunto de edifícios, equipamentos e infraestruturas da cidade. As formas transmitem sempre valores, a estética é também uma ética. Menosprezar o espaço público, a sua qualidade, a sua beleza, a sua adequação aos gostos e às aspirações dos diferentes sectores da população para além da sua função específica é, simplesmente, deixar de lado as pessoas e contribuir para o avanço dos processos de exclusão.
Jordi Borja, Fazer cidade: Planos, Estratégias e Desígnios in Brandão, P., & Remesar, A. (Eds.). (2000). O espaço público e a interdisciplinaridade = el espacio público e la interdisciplinaridad. Lisboa: Centro Português de Design.